Quero compartilhar esse texto de Michael Pollan, que me fez voltar a cozinhar depois de um período de reflexão.
Estamos chegando a descoberta surpreendente de que temos que
pensar não apenas em nutrir nossas células, mas todas as outras células com as
quais passamos pela vida.
Quando você observa um alimento seja o kimchi ou o
chocolate, não é apenas uma coisa, não é apenas um produto. É a relação com
outras espécies na natureza.
E é muito fácil esquecer isso agora, a cadeia alimentar é
longa e obscura.
O kimchi vem em um pote, o pão vem embalado, mas todas essas
coisas envolvem interações quase milagrosas com o mundo natural.
A engenhosidade humana que, há dezenas de milhares de anos,
aprende a transformar as dádivas da natureza em realizações culturais. E é
disso que se trata a culinária.
Nós somos criaturas da chama. Somos um produto da culinária.
Estas transformações são muito profundas.
Cozinhar ou não cozinhar é uma questão secundária.
Embora eu saiba que talvez isso seja direto demais.
Cozinhar significa algo diferente, em épocas diferentes para
gente diferente.
Não costuma ser algo radical. Mesmo assim, até cozinhar
algumas noites a mais na semana, ou dedicar o domingo a preparar refeições para
a semana, ou talvez tentar de vez em quando fazer algo que só esperaria
comprar, mesmo esses atos modestos constituirão uma espécie de voto.
Voto para o que exatamente?
Em um mundo onde tão poucos de nós são obrigados a cozinhar,
escolher faze-lo é fazer um protesto a especialização.
Contra a total racionalização da vida.
Contra a infiltração do interesse comercial, em todas as esferas
de nossas vidas.
Cozinhar pelo prazer de fazê-lo, dedicar uma parte de nosso
tempo a isso é declarar nossa independência das corporações que querem dirigir
cada momento de nossas vidas para mais uma ocasião de consumo.
Cozinhar tem o poder de transformar mais do que plantas e
animais.
Descobri que cozinhar nos dá a rara oportunidade na vida
moderna de trabalhar diretamente em nosso sustento e nos das pessoas que
alimentamos.
Nos cálculos da economia, fazer isso talvez não seja o uso
mais eficiente de seu tempo.
Mas mesmo assim é bonito.
Pois existe habito menos egoísta, trabalho menos alienado,
tempo menos desperdiçado,
Que preparar algo delicioso e nutrir as pessoas que você ama?
Não quero convencer as pessoas a cozinhar, quero atrai-las
para a cozinha através do prazer.
Tenho a esperança que haja um renascimento do ato de
cozinhar, e que seja diferente de antes.
Cozinharemos por opção, por escolha, e porque cozinhar é
prazeroso, não que temos que faze-lo.
Michael pollan
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